quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

RECORDES EM LEILÕES IMPULSIONAM PREÇO DE ARTISTAS BRASILEIROS NOS EUA



Jornal Folha de São Paulo 30/11/2009



Quando bateram o martelo na Sotheby's há duas semanas, galeristas ouviram. Foi o som que fechou a venda de uma obra de Sergio Camargo por US$ 1,6 milhão, valor recorde para o brasileiro. Dois dias depois, uma feira em Nova York já mostrava os sinais do que parece ser uma bolha especulativa na arte latino-americana.



Estavam à venda na Pinta um "Bicho", de Lygia Clark, por US$ 850 mil, e um "Metaesquema", de Hélio Oiticica, por US$ 270 mil, valores muito acima do que se praticava até hoje.

Às vésperas da maior feira de arte das Américas, a Art Basel Miami Beach, que começa nesta quinta, um cenário de especulação mais forte do que nunca se desenha para a arte brasileira e latina no mercado global.



"Uma bolha está se formando", analisa a galerista Luisa Strina. "Existe uma certa euforia que eu acho perigosa: sobe muito e depois despenca tudo."

Na feira nova-iorquina, ficaram sem comprador as obras de Clark e Oiticica, sinal de que, antes de despencar, a bolha pode atrofiar um mercado com preços estáveis até agora.

Isso porque só com a recessão econômica é que colecionadores voltaram os olhos para os latino-americanos, com preços bem mais acessíveis do que as obras hiperinflacionadas do mercado internacional. A crescente demanda culmina agora num aumento de preços e interesse cada vez maior por obras de artistas dessa região.



"O Brasil passa por um momento de entusiasmo e confiança", observa María Bonta, do departamento de arte latino-americana da Sotheby's. "Galeristas vão ser mais agressivos, existe uma especulação significativa nesse mercado."



Desde que Beatriz Milhazes teve um quadro arrematado na mesma casa de leilões por US$ 1,05 milhão, no ano passado, o circuito global vive uma espécie de febre de arte brasileira.





Além do mercado, reagiram os museus, com mostras de Cildo Meireles, na Tate, de Londres, e Mira Schendel, no MoMA, em Nova York. No ano que vem, o Malba, de Buenos Aires, fará retrospectiva de Sergio Camargo, e Rivane Neuenschwander será a primeira artista brasileira a ocupar todo o New Museum nova-iorquino.



Na esfera institucional, museus também ajudam a acelerar a inflação dos preços, na tentativa de incrementar suas coleções. Enquanto Tate e MoMA são fregueses dos latino-americanos, museus como o Boston Art Museum e o Harvard Art Museum acabam de começar coleções de artistas latinos.



"Muitos colecionadores europeus e americanos estão notando as possibilidades", analisa Virgilio Garza, do setor de arte latino-americana da Christie's. "É possível fazer uma grande coleção desses artistas com muito menos dinheiro."

"Há muitos compradores gringos, desses de olhos azuis mesmo", diz Alejandro Zaia, um dos diretores da Pinta, em Nova York. "Tem muito ianque comprando, os galeristas estão com os olhos arregalados."





Na mira dos gringos, a galerista Raquel Arnaud leva à feira de Miami obras de Sergio Camargo a preços reajustados. Um trabalho que valia US$ 500 mil no início deste ano deve chegar ao estande valendo US$ 900 mil, um aumento de 80% --o mesmo reajuste valendo para obras de Waltercio Caldas.

Obras de Adriana Varejão, outra artista com forte demanda internacional, também aumentaram cerca de 20%.

"A gente tem corrigido valores o ano inteiro, todo dia corrigimos", afirma Arnaud. "Houve um aumento, mas esses são artistas muito cotados, já não são mais crianças."





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